Foto: Scot Consultoria
Em 2 de março foi realizado um programa ao vivo transmitido pelo Instagram, cujo tema foi sustentabilidade e o consumo da carne.
O assunto foi abordado pela médica veterinária, fiscal estadual de Defesa Agropecuária, Melina Daud, criadora da página no Instagram @eatbeefglobalcattlebeef, e o nutricionista Felipe Viana, responsável pela página do Instagram @densanutricao
O debate foi para desmistificar que o abate de bovinos cause sofrimento ao animal e danos ao meio ambiente, já que esse mito serve de munição para manifestações que condenam o consumo de carne e estimula a dieta baseada em vegetais.
Melina ressaltou que compreender a importância e o significado dos ciclos da vida e da morte em função da dualidade de suas naturezas não é uma missão fácil. Quando deixamos de nos alimentar de carnes alegando sofrimento animal estamos nos contradizendo duas vezes; no primeiro momento estamos nos retirando do complexo ecológico da vida, criando o risco de gestar um mundo paralelo à verdadeira realidade de seres humanos, de seres que dependem dos elos biológicos para estarem vivos e terem saúde. E no segundo momento estamos duvidando da nossa capacidade de seres pensantes, que têm inteligência e capacidade para criar alternativas.
Com relação ao abate, técnicas científicas são largamente utilizadas nos sistemas produtivos pecuários, que geram bem-estar animal, melhores condições de desempenho produtivo, respostas à dor e sofrimento, proporcionando dietas saudáveis e seguras em respeito à saúde humana, ao meio ambiente e aos animais.
O Abate Humanitário no Brasil é Lei. A Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) no. 3, de 17 de janeiro de 2000, define o abate humanitário como um conjunto de diretrizes, técnicas e científicas que garantam o bem-estar dos animais desde a recepção até a sangria.
Os cuidados com o bem-estar dos animais são de relevância em cada etapa da cadeia produtiva, promovendo a obtenção de matéria-prima saudável e de elevada qualidade.
A qualidade da carne é caracterizada por suas propriedades físico-químicas (maciez, sabor, cor, aroma e suculência) que são determinados por fatores individuais do animal (genética, idade, sexo), fatores de manejo na propriedade de origem (manejo nutricional, manejo sanitário e manejo geral), e fatores ligados ao abate (transporte e manejo de abate).
Primeiramente, o setor produtivo pecuário trabalha eticamente, baseado em padrões internacionais de produção, visando os anseios do mercado e seus consumidores. Prova disso são o respeito às legislações vigentes, investimentos em pesquisas, aperfeiçoamento de manejos que atendam ao bem-estar animal, práticas sustentáveis ligadas ao meio ambiente, aplicação de tecnologias zootécnicas e sanitárias.
No transporte, os animais só podem ser deslocados munidos da GTA (Guia de Trânsito Animal), que tem como objetivo o controle sanitário e o trânsito animal. É um instrumento para o monitoramento das questões socioambientais do setor.
Os animais devem ser transportados até o frigorífico em caminhões limpos e desinfetados. O manejo de pré-abate consiste em descanso, dieta hídrica e banho de aspersão. O período de descanso e dieta hídrica no frigorífico é o tempo necessário para que os animais se recuperem do estresse causado pelo deslocamento do local de origem até ao estabelecimento de abate. O objetivo do banho de aspersão antes do abate é limpar a pele para assegurar uma esfola higiênica, reduzir a excitação dos animais e promover vasoconstrição periférica favorecendo a sangria.
O manejo durante o abate consiste em insensibilização e sangria. A insensibilização promove o estado de inconsciência no animal até o final da sangria, garantindo que não ocorra sofrimento. Numerosos estudos confirmaram que quando o atordoamento é realizado com dardo cativo com penetração há imediata perda de consciência dos animais. E a sangria é indispensável para que seja removida a maior quantidade de sangue possível, uma vez que a carcaça mal sangrada apresenta, invariavelmente, um aspecto desagradável, além de constituir em um excelente meio de cultura para microrganismos.
Por fim, o frigorífico assegura ao consumidor que a carne provém de uma produção sustentável e segura, pois precisa cumprir as normas de abate e bem-estar animal no manejo pré-abate respeitando as normas do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal (RIISPOA), conforme o Decreto no. 30.691, de 29 de março de 1952. O estabelecimento deve ter registro no MAPA, garantir que essa carne foi inspecionada por algum órgão que assegure a qualidade de produtos de origem animal comestíveis e não comestíveis destinados ao mercado interno e externo, bem como de produtos importados, seja pelo Serviço de Inspeção Federal – SIF, Serviço de Inspeção Estadual - SIE ou Serviço de Inspeção Municipal - SIM.
Melina discorreu sobre a preocupação com relação à questão ambiental, tais como o uso da terra, da água e das emissões dos gases de efeito estufa (GEEs).
Segundo a publicação da Agência Nacional das Águas (ANA) o principal uso da água foi para irrigação agrícola, em 49,8%, 24,3% para abastecimento humano, 9,7% para indústria, 8,4% para consumo animal, 4,5% para termoelétricas, 1,6% para abastecimento rural e 1,7% para mineração.
A métrica para medir emissão do gás de efeito estufa GEE/kcal tenta definir as emissões de dióxido de carbono (CO2) associadas à geração de calorias alimentares, começando com a atividade na fazenda e se estendendo até o processamento, transporte, e, em última análise, para uso do consumidor.
Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2019 o setor de uso da terra correspondeu a 44%, agropecuária 28%, energia 19%, processos industriais 5% e resíduos 4% (figura 1).
Figura 1. Emissão de gases de Efeito Estufa GEE/t, representado em porcentagem, por setor.
Fonte: SEEG/Elaborado pela Scot Consultoria
O setor agropecuário vem diminuindo a emissão de gases de efeito estufa, desmentindo a afirmação de que setor seria o maior emissor de poluentes.
Os temas debatidos tiveram a intenção de esclarecer condutas adotadas pelo setor primário e que desmentem as críticas ao setor. Produzir respeitando o meio ambiente e o bem-estar animal é producente.
Bibliografia:
ANA - Agência Nacional das Águas
SEEG - Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa.
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